PRECONCEITO LINGUÍSTICO

Gazielly Vidal Salustiano, Henrique de Santana de Almeida e Maria Luísa Costa Almeida Silva Agosto de 2022 Intolerância

O Preconceito Linguístico é aquele gerado pelas diferenças linguísticas existentes dentre de um mesmo idioma, é um dos tipos de preconceito mais empregados na atualidade e pode ser um importante propulsor da exclusão social, muitos indivíduos consideram sua maneira de falar superior ao de outros grupos.

Antes de mais nada, devemos salientar que nosso país possui dimensões continentais e embora todos falamos a língua portuguesa, ela apresenta diversas variações e particularidade regionais. Importante destacar que o preconceito linguístico acontece no teor de deboche e pode gerar diversos tipos de violência (física, verbal, psicológica).

Os indivíduos que sofrem com o preconceito linguístico muitas vezes adquirem problemas de sociabilidade ou mesmo distúrbios psicológicos.

Os sotaques que se distinguem não somente nas cinco regiões do Brasil, mas também dentro de um próprio estado, são os principais alvo de discriminação. Por exemplo, uma pessoa que nasceu e vive na capital do estado e uma pessoa que vive no interior.

Geralmente, quem está na capital acredita que sua maneira de falar é superior a das pessoas que habitam o interior do estado ou mesmo as áreas rurais.

Nesse caso, muitas palavras pejorativas e depreciativas são utilizadas para determinar algumas dessas pessoas através de um estereótipo associado as variedades linguísticas, por exemplo, o caipira, o baiano, o nordestino, o roceiro, dentre outros.

Esse tipo de preconceito atinge muitos grupos considerados de menor prestígio social, donde a língua é utilizada como ferramenta de distinção social. Entretanto, vale lembrar que todas as variações linguísticas são aceitas e devem ser consideradas um valor cultural e não um problema.

A imposição de um único ideal linguístico em detrimento dos demais esbarra-se no preconceito linguístico. É importante destacar ainda que existe na língua portuguesa uma grande diferença entre Português padrão (PP) e o Português não-padrão (PNP).

O Português padrão (PP) é essencialmente voltado para a normatividade da língua escrita. Conforme a história da escrita, houve um divisor de águas nas sociedades modernas pelo qual o homem pôde perpetuar e multiplicar o conhecimento.

Os profissionais ligados à área de Letras, como os gramáticos tradicionalistas, dicionaristas, acadêmicos de Letras, escritores de livros, etc., investiram maciçamente na prescrição de regras gramaticais, elaboração de construções sintáticas sofisticadas e palavras eruditas a fim de enriquecer suas práticas linguísticas.

E é justamente com base nesse “estilo” padrão linguístico que as escolas brasileiras oferecem as aulas de português. Dessa forma, considera-se como "errado" o conjunto das demais variantes da língua instauradas, sobretudo na oralidade, e inseridas no Português não-padrão (PNP).

Essas variantes do Português não-padrão (PNP) são faladas pelas pessoas das classes sociais mais empobrecidas da sociedade que, normalmente, não completaram os anos da Educação Básica ou tiveram acesso a uma precária educação formal.

Por isso, o preconceito linguístico ainda está relacionado a outros tipos de preconceitos existentes na sociedade. A respeito disso, o professor, doutor em Filologia e linguista Marcos Bagno afirma que:

O preconceito linguístico deriva da construção de um padrão imposto por uma elite econômica e intelectual que considera como “erro” e, consequentemente, reprovável tudo que se diferencie desse modelo. Além disso, está intimamente ligado a outros preconceitos também muito presentes na sociedade, como preconceito socioeconômico, preconceito regional, preconceito cultural, preconceito racial e a homofobia.

Ainda segundo Marcos Bagno, o preconceito linguístico é reforçado por ideologias construídas socialmente.

A primeira ideologia é no âmbito pedagógico, focar o ensino linguístico exclusivamente na gramática normativa sem a reflexão ou o conhecimento das demais variedades linguísticas brasileiras.

E a segunda refere-se a massificação dos meios de comunicação que marginalizam os falantes do Português não-padrão (PNP) e os tacham como pessoas que não sabem falar português direto.

Além disso, diversos grupos, considerados como minorias sociais, são hostilizados por manterem diferentes formas de se comunicarem. As pessoas surdas, por exemplo, têm sido alvos constantes de preconceito e deboche, sobretudo devido à sua forma de comunicação, baseada na Libras – a Língua Brasileira de Sinais. Da mesma maneira, as regras do idioma dominante, determinadas pela gramática normativa, não incluem, por exemplo, a possibilidade de uma língua viso espacial, que ainda não tem grafia amplamente utilizada. Isso vai totalmente contra a ideia de acessibilidade, tão fundamental para a inserção da diversidade na vida da população.

A Libras hoje é uma língua valorizada e considerada importante no contexto social e de trabalho. Mas continua sofrendo diversas barreiras e ataques. Assim, ela é alvo de preconceito linguístico, tanto no que diz respeito à necessidade de seu uso, nas diversas instâncias sociais, quanto à sua gramática que difere em muito da língua portuguesa.

A Língua Brasileira de Sinais foi criada com o intuito de possibilitar uma comunicação mais efetiva entre pessoas surdas e ouvintes. Desde o ano de 2002 ela é reconhecida por lei no nosso país, como língua da comunidade surda e conta com estrutura e regras gramaticais próprias, mesmo que muitos indivíduos pensem que ela se baseia em gestos que simplesmente devem espelhar o que é falado na língua portuguesa.

Mesmo que o reconhecimento da Libras já seja uma grande vitória na luta pela educação dos surdos, no Brasil, seu status de língua oficial não é validado na prática e ainda sofre inúmeros preconceitos, como infelizmente temos visto recentemente nas redes sociais.

No Brasil, o preconceito linguístico é muito perceptível em dois âmbitos: no regional e no socioeconômico.

No primeiro caso, é comum que os agentes estejam nos grandes centros populacionais, os quais monopolizam cultura, mídia e economia, como Sudeste e Sul. As vítimas, por sua vez, normalmente, estão nas regiões consideradas pelos algozes como mais pobres ou atrasadas culturalmente (como Nordeste, Norte e Centro-Oeste). Rótulos como o de “nordestino analfabeto” ou de “goiano caipira”, infelizmente, ainda estão presentes no pensamento e no discurso de muitos brasileiros.

Segundo Bagno, na obra Preconceito Linguístico: o que é, como se faz (1999), o preconceito linguístico deriva da construção de um padrão imposto por uma elite econômica e intelectual que considera como “erro” e, consequentemente, reprovável tudo que se diferencie desse modelo. Além disso, está intimamente ligado a outros preconceitos também muito presentes na sociedade, como:

Preconceito socioeconômico

Entre todas as causas, talvez seja a mais comum e a que traga consequências mais graves. Isso se deve ao fato de membros das classes mais pobres, pelo acesso limitado à educação e cultura, geralmente, dominarem apenas as variedades linguísticas mais informais e de menor prestígio. Assim, são excluídos principalmente dos melhores postos no mercado profissional, e cria-se a chamada ciclicidade da pobreza: o pai pobre e sem acesso à escola de qualidade dificilmente oferecerá ao filho oportunidades (pela falta de condição), e este, provavelmente, terá o destino daquele.

Preconceito regional

Junto ao socioeconômico, é uma das principais causas do preconceito linguístico. São comuns casos de indivíduos que ocupam as regiões mais ricas do país manifestarem algum tipo de aversão ao sotaque ou aos regionalismos típicos de áreas mais pobres.

Preconceito cultural

No Brasil, há uma forte aversão por parte da elite intelectual à cultura de massa e às variedades linguísticas por ela usadas. Isso fica evidente, por exemplo, na música.

Por muito tempo, o sertanejo e o rap foram segregados no cenário cultural por serem oriundos de classes menos favorecidas (muitas vezes, sem acesso à educação formal) e que se utilizam de uma linguagem bastante informal (a fala do “caipira” ou de um membro de uma comunidade em um grande centro, por exemplo).

É muito importante destacar que ambos são estilos musicais extremamente ricos e são parte importantíssima da identidade cultural de milhões de pessoas.

O preconceito linguístico é o julgamento dos falantes às variações de fala e escrita de menor prestígio dentro da língua, ocorre quando um falante utiliza conhecimentos a respeito da norma culta gramatical para se colocar como superior a um falante que não utiliza ou conhece essas normas.

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